
As ervas, ou ewê em iorubá, desempenham um papel fundamental nos cultos afro-brasileiros. Elas são mais do que simples elementos da natureza; carregam em si uma energia vital, que conecta o mundo material ao espiritual. Desde os tempos antigos, as comunidades africanas reconhecem as plantas como seres vivos dotados de axé, a força vital presente em tudo o que existe. Este conhecimento foi trazido ao Brasil pelos povos escravizados e perpetuado em tradições como o Candomblé, a Umbanda e outros cultos de matriz africana.
Neste artigo, vamos explorar o significado e o poder das ervas nesses contextos, abordando seu papel nos rituais, na cura e na conexão com os orixás. Veremos também como essa sabedoria ancestral continua viva e relevante nos dias de hoje.
No universo afro-brasileiro, as ervas são vistas como entidades espirituais que possuem axé e propriedades específicas. Cada planta tem uma energia única e é associada a determinados orixás, com funções que variam desde purificação até proteção espiritual. O uso das ervas é uma ciência sagrada, transmitida de geração em geração, muitas vezes de forma oral, e requer profundo conhecimento para ser aplicado corretamente.
As ervas podem ser utilizadas de diversas formas:
Banhos de purificação: Para limpar energias negativas e renovar o axé.
Defumações: Para proteger e consagrar espaços.
Amuletos: Em saquinhos ou patuás, carregando energias de proteção e sorte.
Remédios naturais: Utilizadas na cura de doenças físicas e espirituais.
Rituais: Em oferendas e consagrações, ligando-se diretamente aos orixás e à espiritualidade.
Cada orixá possui suas ervas de predileção, que são utilizadas para agradá-los, fortalecer suas energias ou invocar suas presenças. Aqui estão alguns exemplos:
Oxalá: Associado à paz e à pureza, Oxalá tem como ervas o algodão, a espada-de-são-jorge e a folha de laranjeira. Essas plantas são frequentemente usadas para banhos e defumações de purificação.
Iemanjá: Orixá das águas e da maternidade, é relacionada a ervas como colônia, alfazema e guaraná. Essas plantas trazem energia de acolhimento e renovação.
Ogum: Guerreiro e protetor, Ogum é ligado a plantas como espada-de-são-jorge, folha de mamona e manjericão, que têm propriedades de proteção e coragem.
Oxóssi: Orixá da caça e das matas, suas ervas incluem erva-doce, folha de goiabeira e samambaia. Essas plantas são usadas em rituais que envolvem fartura e conexão com a natureza.
Xangô: Ligado à justiça e à sabedoria, Xangô tem como ervas a jurubeba, a folha de louro e a quina. Essas plantas auxiliam em processos de tomada de decisões e proteção.
Essas associações não são apenas simbólicas; são utilizadas em rituais para canalizar as energias dos orixás e potencializar o axé.
Os banhos de ervas são uma das práticas mais conhecidas nos cultos afro-brasileiros. Eles têm como objetivo limpar o corpo e o espírito, renovar o axé e preparar o indivíduo para os desafios do cotidiano ou para momentos importantes.
Como preparar um banho de ervas:
Escolha as ervas apropriadas para sua necessidade (proteção, amor, prosperidade, etc.).
Lave as ervas com cuidado, reconhecendo sua energia e pedindo permissão para usá-las.
Ferva a água, desligue o fogo e adicione as ervas.
Deixe descansar por alguns minutos.
Coe e use a água para banhar-se do pescoço para baixo, mentalizando seus objetivos.
Esses banhos podem ser feitos com ervas como manjericão, alecrim, arruda e guiné, dependendo da intenção.
As ervas também possuem propriedades medicinais amplamente reconhecidas. Muitos praticantes utilizam o conhecimento ancestral para preparar remédios naturais que tratam tanto do corpo quanto da alma. Esse uso é um testemunho da ciência embutida nas práticas espirituais.
Por exemplo:
Guiné: Usada para proteção espiritual e também para aliviar dores musculares.
Arruda: Excelente para afastar energias negativas e para tratamento de dores de cabeça.
Alecrim: Associado à prosperidade, também é utilizado para melhorar a memória e reduzir o estresse.
Babosa: Usada em rituais e também para tratar problemas de pele.
Essa ciência ancestral tem ganhado espaço em estudos modernos, que comprovam as propriedades medicinais de muitas dessas plantas.
O conhecimento sobre as ervas e seus usos está profundamente ligado à oralidade. As gerações mais velhas têm a responsabilidade de transmitir esse saber para os mais jovens. Contudo, com o avanço da urbanização e a perda de espaços naturais, muitos desses conhecimentos estão em risco.
É fundamental valorizar e preservar esse saber, incentivando estudos, publicações e práticas que mantenham viva essa conexão com as ervas e com a espiritualidade.
Hoje, o uso das ervas vai além dos terreiros. Muitas pessoas incorporam os banhos, defumações e chás em suas rotinas para melhorar a qualidade de vida e fortalecer sua espiritualidade. Essa adaptação demonstra a relevância do conhecimento ancestral nos tempos modernos.
No entanto, é essencial lembrar que o uso das ervas requer respeito e responsabilidade. Não se trata apenas de seguir receitas, mas de compreender e honrar o axé presente em cada planta.
As ervas, ou ewê, são muito mais do que elementos naturais; são portadoras de energia, sabedoria e cura. Nos cultos afro-brasileiros, elas ocupam um lugar central, conectando os praticantes aos orixás e promovendo equilíbrio entre o mundo espiritual e material.
O respeito e o uso consciente das ervas não apenas mantêm viva a tradição
Descubra como honrar e conectar-se com as raízes que nos fortalecem.